"Nas culturas e religiosidades de matriz africana, os anciãos e as anciãs ensinam o tempo todo. Em situações do cotidiano, transmitem aos mais novos seus saberes e valores, e assim esse aprendizado é assimilado, principalmente por que alguns detalhes só se aprendem com a prática coletiva. Com o objetivo de reconhecer e valorizar a atuação desses mestres e mestras é que a Associação Desportiva e Cultural de capoeira
mestre Bimba realiza no próximo dia 17 de setembro (sábado), a partir das 15h, a terceira edição da Caminhada em Homenagem aos Mestres da Tradição Afro-brasileira.
A atividade é aberta ao público e reúne membros do Afoxé Asè Omo Odé, casas de Candomblé e Umbanda de Goiás, grupos de capoeira e Congada Ilé Ibá Ibomim (Casa de Pai João de Abuque, na rua 1059, quadra 134, lote 04), que de lá saem em cortejo pelas principais ruas do Setor Pedro Ludovico (rua 1064 e Avenida Circular), relembrando e celebrando música e dança a história de mestres e mestras.
O cortejo retorna à Rua 1059, e em frente à Casa de Pai João de Abuque será realizado o encerramento do evento, com uma programação cultural que inclui o show “Divas Negras”, com as cantoras Clécia Santana, Henusa Mendonça e Janaína Soldera; shows das bandas “Visual Ilê” e a “A trilha” e apresentações de capoeira e
samba de roda.
GUARDIÕES DA CULTURA
Por meio da tradição oral, mestres e mestras transmitem suas orientações sobre a vida, ensinam a importância de relembrar os antepassados, homens e mulheres que são as raízes nas quais a população negra busca a força para dar continuidade a sua história de luta e resistência. Por sua sabedoria, sua experiência de vida, e as memórias que carregam e partilham, é que são considerados guardiões e guardiãs do saber, dessa herança que trazem dentro si.
Como ocorre já pelo terceiro ano consecutivo, a Caminhada em Homenagem aos Mestres da Tradição Afrobrasileira resgata a história de Pai João de Abuque (mais antigo babalorixá e primeiro ancestral do candomblé goiano);
mestre Bimba (o criador da capoeira regional) e
mestre Pastinha (um dos ícones da capoeira angola). Este ano também reverência Manoel Pio Sales -
Mestre Sabu (pioneiro da capoeira angola no Estado), e destaca a
história de vida e luta de duas mulheres negras, como
Maria Dalva Mendonça (matriarca do Movimento Negro em Goiás e fundadora da Comunidade Visual Ilê) e
Maria José Alves (
em memória – uma das matriarcas das congadas de Goiás).
“Homenagear nossos ancestrais, e este ano em especial as mulheres significa reverenciar a própria
cultura afro-brasileira em Goiás. Precisamos falar desses mestres e
mestras, pois sem eles não estaríamos aqui hoje. E sem dúvida, a atuação de Dona Dalva e Dona
Maria José revelam a coragem e a resistência das mulheres negras”, enfatiza Luis Lopes Machado (
mestre Luizinho), filho de
mestre Bimba e organizador da
caminhada.
MESTRES E MESTRAS DA TRADIÇÃO AFRO-BRASILEIRA
Nascida em Pires do Rio. Ela
fala com orgulho de suas origens africanas (Angolana) e indígenas (Tapuia). Fundadora da
Comunidade Visual Ilê e da Escola de Samba Flora do Vale, Dona
Dalva, como é conhecida, é figura importante do movimento negro e de
mulheres, do samba, das congadas e
das religiões de matriz africana no Estado.
Natural de Catalão/GO, um das
matriarcas das congadas de
Goiás, teve uma atuação significativa em vários movimentos sociais (de
mulheres, negros, idosos e trabalhadores). Foi também uma
das fundadoras da Pastoral do Negro e assumiu diversas funções de liderança na Vila João Vaz, onde estava especialmente à frente da Festa do Rosário e da Congada.
Manoel Pio de Sales (mestre Sabu)
Nasceu na Cidade de
Goiás, viveu por
20 anos em Salvador e foi o pioneiro da capoeira angola no Estado. Sempre imponente em seu terno branco,
mestre Sabu é sem dúvida a figura de um valente, daquele que usa da mandinga para superar com dignidade os desafios que surgem em seu caminho.
Em sua casa de candomblé foram iniciados muitos filhos-de-santo, tantos que nem lembrava mais quantos. E são esses filhos e filhas que hoje dão continuidade à herança deixada por esse
mestre, mantém o Ilè Iba Ibomim e também o Afoxé Asè Omo Odé, bloco criado na década de 1990 que levou a
tradição afro-brasileira para os carnavais d Goiânia. E ainda hoje, persiste em levar às ruas e palcos as bênçãos dessa religiosidade e a
história de seus antepassados, em especial Pai João de
Abuque, que em setembro de 2006, tornou-se o primeiro ancestral do
candomblé goiano.
Foi um homem a frente do seu tempo. Imaginava e acreditava na expansão da capoeira. E se hoje outros mestres estão pelo mundo afora ensinando essa filosofia de vida, eles devem muito a luta de Manoel dos Reis Machado, mais conhecido como
mestre Bimba, que nos anos de 1930 defendeu o reconhecimento da capoeira regional e da
tradição de matriz africana. Faleceu em fevereiro de 1974, em Goiânia. Mas permanece vivo na memória e na continuidade que seus discípulos e filhos, entre eles Luiz Lopes Machado (
mestre Luizinho) dão ao seu exemplo de
vida e
luta.
Considerado o guardião da capoeira tradicional, Vicente Joaquim Ferreira
Pastinha (
mestre Pastinha) considerava a capoeira não apenas uma
luta, mas uma forma específica de ser e estar no mundo. Por isso, destacou o aspecto esportivo e lúdico da capoeira, definindo as regras, os cantos, a utilização dos instrumentos e a hierarquia dentro do jogo. Falecido em novembro de 1981, seus ensinamentos continuam nas rodas de capoeira e na
atuação de novos mestres que mantém essa importante expressão
cultural afro-
brasileira.
MEMÓRIA E RESISTÊNCIA
A 3ª Caminhada em Homenagem aos Mestres da Tradição representa o desejo e o empenho em manter vivas as tradições de
matriz africana, e principalmente, o exemplo de resistência de mestres e antepassados. E exatamente com esse objetivo é que em 1999, Luiz Lopes
Machado (
mestre Luizinho, filho caçula de
mestre Bimba) criou a Associação Desportiva e Cultural de capoeira
mestre Bimba, e desde então desenvolve atividades e projetos que promovam e divulguem a
cultura e religiosidade afrobrasileira em
Goiás.
Mestre Luizinho destaca ainda que a Caminhada é realizada “em
memória e em reverência a esses
mestres e
mestras de ontem e de hoje, que pelo som dos atabaques, pelas expressões corporais, pelos ritmos, pelos signos e valores de nossa religiosidade, pelas cores e estampas que o Afoxé
Asè Omo
Odé e várias expressões culturais e religiosas
afro-brasileiras levarão para as ruas de Goiânia a beleza e a força da ancestralidade negra”.
Para realização desta terceira
caminhada, a Associação Desportiva e Cultural de
capoeira mestre Bimba tem como parceiros: Pontão de
cultura República do Cerrado, Belcar Caminhões, Secretaria de
Estado de Políticas Públicas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial (Semira), Assessoria Especial de Políticas Públicas para a Igualdade Racial da Prefeitura de Goiânia (Asppir), Canela di Ema Produções, OlhO Comunicação Estratégica, Grupo Calunga de
capoeira angola, Agência Goiana de
cultura Pedro Ludovico Teixeira (AGEPEL), Grupo de
capoeira angola Barravento, DJ Claudinho, Sindicato dos Docentes da UFG (Adufg) e Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da UFG (Facomb).
Serviço:
Mais Informações: Janaína Gomes (62) 8522-2792/ Ceiça Ferreira (62) 8191-2122
Anexo
fotos de 2010 (Crédito:
Ana Rita Vidica, José Jair Bazán e Gabriel Moreira Paiva).